Sep 24, 2007

Sexta-feira passada, dia 21, a convite das Faculdades Integradas de Diamantino, proferi aula inaugural do curso de Pós Graduação em Gestão Empresarial. Esta foi a primeira parte da palestra que denominei Smull – um homem e seu destino.

Sudeste Polonês, manhã fria de novembro de 1923, exatamente na metade do mês, na pequena cidade de ZAGLIKOF, nascia ESMIL, terceiro filho do casal Judeu do total de sete irmãos.
Smil apaixonado pelo trabalho, já seguia os rumos da carpintaria que seu Pai SUCKER, homem forte e severo trilhava.
Tempos difíceis e de pobreza que precediam a segunda guerra mundial. Não raro à luz de velas a família se reunia sob a batuta de ILEVA, a sua mãe, diante de algumas velas e nada para comer. A lembrança é forte, principalmente as lágrimas que escorriam do rosto de todos. Roupas, apenas as dos irmãos mais velhos quando já não serviam. Sapatos? No frio intenso, panos e cordas para protegê-los.
Cadeiras, mesas, armários, bancos e até caixões recebiam as marcas das mãos fortes de SUCKER e seu filho ESMIL. Havia apenas um metro para medir e não foram raras as vezes que corpos inertes, sem vida eram medidos por cordas cheias de nós para o feitio da caixa fúnebre de madeira produzida por mãos judias.
Sempre que podia o aprendiz de carpinteiro saia de ZAGLIKOF e a pé comprava bezerros em locais distantes e pobres e os revendia em comunidades mais abastadas.
A família muda-se para a aldeia próxima de LIPA, cidade de uma rua só, muito comprida é verdade, mas onde se esperava melhores condições para a família.
EM LIPA o jovem SMULL vê a figura sob um cavalo do primeiro soldado Alemão.
Na madrugada de 01.09.1939 a Polônia é invadida pelos Germânicos. Dois dias depois a Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha.
Setenta e duas nações envolvidas, inclusive o Brasil, 45 milhões de mortos, 7,5 milhões provenientes do holocausto, destes quase seis milhões de Judeus, além de ciganos, testemunhas de Jeová, homossexuais, dissidentes políticos, deficientes mentais e tantos outros.
Os Judeus foram obrigados a se identificar e usar a estrela de Davi. Muitos foram transferidos para o bairro judeu de Varsóvia. Num verdadeiro amontoado humano, pequenos quartos acomodavam sete a oito pessoas.
Milhares sucumbiram a fome e ao frio, muitos corpos eram abandonados nas sarjetas, apodreciam. Onde viviam 100.000 pessoas contava no ápice, do então conhecido historicamente como Gueto de Varsóvia 400.000 seres humanos. O contrabando de batatas, cenouras e beterrabas eram punidos com o fuzilamento imediato. Crianças não eram poupadas.
No ano de 1940, SMIL, pais e irmãos são arrancados de sua casa em LIPA e conduzidos a pé a antiga cidade de ZAGLIKOF. A saída foi tão rápida que não houve tempo para retirar o pão do forno que estava já assado.
Em ZAGLIKOF os judeus da região foram selecionados. Os mais fortes ficavam. Mulheres, crianças, velhos e doentes eram conduzidos a antiga Sinagoga. Lamentos e choros eram ouvidos, sabiam que seriam conduzidos para a morte, especificamente foram conduzidos ao campo de extermínio de TREBLINKA. Isaac, o filho franzino e caçula de Schucker jamais seria visto novamente, Smil jamais também não voltaria a ver as irmãs e sua mãe ILOVA.
1942 Smill e SUCKER são enviados ao campo de concentração de BUTZING.
SOUBIBORN, MAIDANING, BIRKENAU, AUCHIVITZ eram o nome dos outros campos da eficiente e competente máquina de morte das SS.
SMILL sobrevivia. A sua luta era para chegar com vida até o dia seguinte, mesmo nos momentos mais difíceis quando teve de encontrar nas lixeiras de BUTZING cascas de batata para cozinhar. Punido pelo abuso comeu-as ferventes e 25 açoites de chicote foram desferidos em suas costas.
MAS SMILL continuava a sobreviver mais um dia.
MAIDANING, este era o novo endereço de SUCHER E SMILL.
NOVO ENDEREÇO PARA A LUTA POR MAIS UM DIA DE VIDA.
As câmaras de gás não param de funcionar. A eficiência germânica é evidente. Eficiente. Eficaz.
Dos enforcamentos, fuzilamentos, do monóxido de carbono emanado de caminhões possantes, encontraram o produto perfeito para a morte rápida, de baixo custo, de utilização de pouca mão de obra. A criatividade e inovação aliada a competência da indústria química alemã ajudaram a tombar aproximadamente 2.000, dois mil, dois mil seres humanos por hora, que depois seriam cremados a 700 graus centígrados.
A eficiente indústria alemã já pensava em reciclagem e antes de irem para os fornos crematórios, dentes de ouro e prata, armações para óculos que ainda podiam ser usadas e pasmem algumas peles humanas eram reaproveitadas.
10 MINUTOS bastavam para a morte, mas por precaução, uma hora se aguardava para se abrir um pequeno visor sob a grande porta que se abria para fora, totalmente vedada, para que não houvesse o mínimo de esperança para obtenção do oxigênio, este precioso gás que nos permite a vida.
Ácido Cianídrico – Cristais De Acído Cianídrico, eleito por ser o gás que matava mais rápido, no mercado conhecido como “ZIKLON B” (Ciclone), um poderoso pesticida para combate ao piolho e outras infestações de insetos. Produto fabricado pelo conglomerado químico alemão conhecido como IG FARBEN. Após a guerra as empresas voltaram a utilizar os nomes originais; BAYER, BASF, HOESCHT e AGFA.
SMULL sobrevivia a tudo isso.
1944 – A Alemanha dava sinais claros de que teria muitas dificuldades para vencer a guerra. SMULL pede para ir ao banheiro e adentrando a mata percebe que as vozes dos soldados alemães vão se enfraquecendo. Era a hora de fugir. Cinco dias na mata.
Os Russos chegam a Polônia e a situação torna-se menos agressiva.
Em TRACHINIK SMULL pede abrigo em uma padaria em troca de trabalho. Pão e calor eram tudo o que ele queria.
Volta a ZAGLIKOF e o fogo consome as casa do bairro judeu. Vai a LIPA e vê sua antiga casa invadida por uma família Polonesa. SMULL reclama e é preso.
Libertado encontra SÉSIA sua irmã mais velha, que conseguiu fugir da Sinagoga através de uma janela. Encontra o Pai na Alemanha em um campo de prisioneiros e o irmão... mais velho que havia se alistado nas Tropas Russas.
O ESPÍRITO EMPREENDEDOR de SMULL volta a aparecer e com alguns Rubros emprestados de SÉSIA vende vodka polonesa aos Russos pelo dobro do preço que compra.
Viaja por toda a Polônia onde compra produtos abundantes em uma região e os vende onde são escassos.
Em LUBLIN tem toucinho, mas não tem roupas. Em LUCKNA tem roupa, mas não tem carne.
SMULL consegue economizar US$ 3.000,00 e vai para a Alemanha.
Na Alemanha do pós-guerra ele nota que Desembaraço E Boa Aparência São Fundamentais Para Os Negócios.
Da Alemanha leva ASPIRINA para a Polônia. Da Polônia leva Couro para a Alemanha. Vai de carona, de trem, a pé...
Do lado oriental de Berlin vende café brasileiro importado pelos Russos para o lado Alemão.
ONDE HÁ BOA CHANCE lá está o comerciante.
O destino de forma sarcástica cruza o seu caminho e uma alemã, metodista, de 18 anos, vendedora de uma loja de sapatos. Seu nome: Yana. Esta seria a mãe de seus três filhos.
Abre uma Delicatessem, o primeiro ponto fixo, mas o negócio não dura muito.
SMULL pensa em novos ares e recebe o convite de amigos para conhecer a Bolívia. Suas economias nesta época chegavam a US$ 7.000,00.
EM 27/12/1951 parte para a América do Sul.
Na Bolívia, quase leva um tiro de bala perdida e a instabilidade política o afugenta do país.
Há uma tia no Rio de Janeiro. Smull pede a Yana que o aguarde junto com seu primogênito e que em breve voltaria.
Do Rio para São Paulo, o bairro do Bom Retiro, de lá para São Caetano do Sul, cidade movimentada e de grandes oportunidades. De amigo a amigo, conhecendo poucas palavras em português lhe é oferecido um negócio que se encontrava ainda em fase de pagamento, com 200 clientes, muitos inadimplentes, uma charrete e um cavalo. O proprietário aceita pequena entrada e depois em prestações.
É CHAMADO DE LOUCO!
O mascate judeu conhecido pelo bom humor, em três anos paga as dívidas e a freguesia sobe de 200 para 2.000 clientes, todos anotados em um caderno.
EM NOV DE 1957, ARÃO WASTERMAN lhe oferece uma loja com um nome estranho para um Judeu Polonês, mas que traduzia a origem da maioria de sua freguesia, nome sábio e que permanece até hoje.
Este eterno sobrevivente, do nada e próximo as rondas da morte, construiu um império organizacional com mais de 340 lojas em mais de oito estados do Brasil. Mais de três BILHÕES E MEIO DE FATURAMENTO anual, considerado o maior anunciante brasileiro, estudado por professores e pesquisadores de Administração no Brasil e no mundo.
Aos 84 anos de idade, SMULL, nome Polaco para Samuel, este senhor que carrega ainda um forte sotaque, da família KLEIN dá início a nossa palestra.
ESTA É A HISTÓRIA DE SAMUEL KLEIN, SMULL EM POLACO, O DONO DAS CASAS BAHIA.