Dec 19, 2006

Indigesto: Achei muito conveniente esta notícia de autoria do Prof. Luciano Pires. Abraços a todos.
Elifas
AS ENTROUXADORASFiz uma rápida análise deste começo de milênio e descobri qual é o tipo de empresa de maior sucesso no país tropical. São as Entrouxadoras. As empresas que fazem a gente de trouxa. E como tem!Companhias aéreas, por exemplo. Quebrei o pau com uma delas. Que novidade! Atrasam e cancelam como e quando querem, não dão informações, deixam a gente largado no aeroporto, não estão nem aí pros nossos compromissos e cancelam vôos a seu bel prazer. E não pagam multa nenhuma. Se eu quiser mudar um horário de vôo, tenho de pagar multa. E isso já acontecia bem antes dessa crise de incompetência que acomete o setor no Brasil. E se não quiser, que vá de carro ou a pé. Trouxa.E os fabricantes de celulares? Tive um problema com o celular da minha esposa. Ela passou três meses pendurada ao telefone, sem respostas, sem atenção, extraviaram o celular dela na assistência técnica e só depois de um escândalo conseguiu o dinheiro de volta. Não gosta? Não use celular. Trouxa.E os bancos e operadoras de cartão de crédito, então? Tive um problema no meu cartão de débito. Não pude sacar dinheiro no caixa automático, tive de usar um cartão de crédito. Saquei trezentos reais. E quando chegou a fatura do cartão de crédito descobri que pagaria quarenta e dois reais de "encargos". Liguei pra reclamar e ouvi: é mesmo, isso é assalto a mão armada... E se não quiser, que guarde sua grana embaixo do colchão. Trouxa.E as indústrias? Você tem computador e impressora a jato de tinta? Alguma vez parou para fazer as contas de quanto custa a tinta daqueles cartuchos? Num e-mail que recebi, vinha um exercício:"Um Cartucho HP, com míseros 10ml de tinta custa R$ 55,99. Isso dá R$ 5,59 por mililitro. Praticamente seis mil reais por um litro de tinta! As impressoras HP 1410, 3920 que usam os cartuchos HP 21 e 22, estão vindo somente com 5 ml de tinta! Mas não é só HP. Com a Lexmark é a mesma coisa." Não quer? Use máquina de escrever. Trouxa.Fui comprar um carro. No anúncio deram um preço. Na hora da compra me empurraram todo tipo de acessório. Aquele carro do anúncio simplesmente não existia! Não gostou? Compra outro carro, seu trouxa.E as operadoras de celulares? Já tentou resolver alguma coisa usando o 0800 terceirizado delas? Trouxa!E eu poderia contar das experiências com o provedor de Internet, com a empresa de televisão a cabo, com o plano de saúde, com a seguradora, com a construtora, com a escola de meus filhos, com... Fala a verdade, quantas vezes por dia te fazem de trouxa, hein? Perdeu a conta, né?Pois eu cansei. Resolvi me rebelar e fiz uma lista das entrouxadoras para tomar providências. Mas aí aconteceu uma coisa curiosa. Comecei a reparar nas propagandas delas. Como elas investem em propaganda! E são propagandas feitas por umas pessoas muito competentes. Tão criativas, tão bonitas, tão bem feitas! Ganham prêmios em festivais pelo mundo afora. Mostram gente bonita e feliz, sorridente, saudável. Têm até filminhos na televisão, tão engraçadinhos. Todas juram que eu, o cliente, estou em primeiro lugar. E que só existem pra facilitar minha vida. Algumas até publicam lindos balanços sociais, mostrando como são generosas com as comunidades onde atuam, doando alimentos e ajudando creches... tudo em papel reciclado que é pra mostrar como elas estão preocupadas com o meio ambienteAí fico emocionado. Entusiasmado. Deslumbrado. Tão deslumbrado que até esqueço que sou trouxa.Eu mereço...Este artigo é de autoria de Luciano Pires

Dec 13, 2006

Índio e Pedágio
Digesto?
Há quinze dias atrás estive na cidade de Sapezal a convite do Conselho Estadual de Educação. Apesar das condições de viagem rever talvez um dos rios mais bonitos de nosso Estado vale todo o esforço. Águas límpidas de uma cor verde de doer os olhos. Mesmo quando em outra oportunidade avistando-o de um pequeno avião ele salta de sua imensidão verde. Um risco na natureza que encanta.
Mas não é que esqueci que o pedágio ali existe. Éh! Se quiser passar tem que pagar. Via Dutra? Imigrantes? Castelo Branco? Que nada? É BR ____ (esqueci o número). Estrada de chão, bastante arenosa. Se não me engano, R$ 10,00 para carro pequeno (carros oficiais não pagam, para frustração dos pequenos índios que vieram ao nosso encontro para baixar a corda indicando o bloqueio) e R$ 30,00 para caminhões. Seguimos o trecho através da reserva indígena entre Campo Novo dos Parecis e Sapezal, poucos caminhões, estrada melhor do que o trecho Sapezal - Tangará da Serra, também pudera, há duas tribos, dois pedágios pela primeira opção. Pedágio dobrado!!! Os caminhoneiros preferem o trecho mais longo. Economia de mercado é isso. E os índios aprenderam bem rápido.

Missões Mortas
Indigesto

Fiquei ausente uns dias e deu uma preguiça danada de escrever. Pensei que ninguém estava lendo, que havia poucos interessados... Que nada! Para minha surpresa houve reclamações. Até críticas sobre minha postura favorável quanto à disciplina dos militares em sala de aula, quando tive a oportunidade de ministrar alguns módulos para os estudos avançados da Polícia Comunitária, contando com alunos de várias regiões deste país.
Bom, mas o que me levou a escrever foi a danada missão empresarial. Bahh!!! Como dizem os gaúchos, que desperdício.
Que meus colegas do Planejamento Estratégico que não me amaldiçoem, mas na grande maioria das vezes é tinta jogada fora, ou um quadro horrendo pendurado na parede de muitas, mas muitas, organizações públicas e privadas.
No ano passado ou foi este ano mesmo, estava trabalhando em um curso de especialização voltada para a área pública, quando o assunto veio à tona. Ora! Se quisermos analisar a importância então tragam para discussão em sala de aula, incitei os discentes.
Na noite seguinte, alguns alunos trouxeram para debate... As missões organizacionais!!! Muitos com grande honestidade disseram que era a primeira vez que a liam, outros a conheciam e reforçavam a sua importância, outros tiveram que procurá-la e alguns comentaram que não conseguiram encontrá-la.
A missão este conjunto de frases, algumas vezes bem formuladas, tem uma base fantástica do ponto de vista gerencial. Dar rumo à organização. Qual a razão da empresa existir? Pergunte isso à recepcionista, ao pessoal da limpeza ou da cozinha, a um gerente de nível médio. A resposta pode ser surpreendente! Aliás, qual a missão da Faecc - Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis? Espere um minuto que preciso ler, ainda não consegui gravar (muitos colegas concordam que não se lembram). Pois bem! Grande parte das propostas de missões hoje são tratados teóricos, livrescas e de pouca utilidade. A missão deve ser simples, curta e profunda. Há quem diga que ser simples é um estado de profunda sabedoria. Deve estar além da parede nos nossos corações e mentes e, sobretudo na prática, no nosso dia a dia, nas nossas ações. Dona Maria e Doutor José devem entendê-la. Repeti-la, repeti-la sem cansar.
A missão nos mostra o caminho e esclarece dúvidas. Evita manuais monstruosos, regras sem fim e quilos e mais quilos de papel que dormem em nossas prateleiras.
Um dia desses, li pendurado em uma parede de uma repartição pública ligada ao judiciário a Missão mais horrenda que conheci. Havia tantas palavras difíceis, próprias do modelo jurídico, que me senti um ignorante. Pasmem! Perguntei para algumas pessoas que lá trabalhavam sobre o significado daquilo. A primeira é que se espantaram, pois tiveram que ler. A segunda não entendeu muito pouco sobre os deslumbres cometidos com a língua portuguesa. Confesso que me senti mais confortável. Eu não era o único ignorante.

Dec 4, 2006

Empreendedorismo em Queda. Veja a reportagem (triste) que deu incio ao meu comentário.

Empreendedorismo em queda

Onofre Ribeiro

Até muito recentemente, aqui em Mato Grosso a palavra de ordem era empreender. Isso significativa criar negócios, inventar e ousar formas de produzir dinheiro, atividades e tocar a vida. Contudo, especialmente neste ano, a queda é visível. A palavra de ordem é conseguir um emprego público.
Como para isso o caminho são os concursos, então o foco da juventude é alcançar um emprego público. As páginas internet sobre concursos são procuradíssimas, e os cursinhos preparatórios estão indo de vento em popa.
Recentemente, conversei com um amigo que deu uma palestra numa faculdade de Direito em Cuiabá, e ao final perguntou aos alunos qual a percepção de futuro deles. E brincou antes de ouvir a resposta: “não vão me dizer que vocês todos sonham com o serviço público?”. Pior. A maioria sonhava ser juiz, promotor, defensor público, delegado de polícia, perito criminal, escrivão de polícia, ou visava cargos afins como oficial de justiça, etc. Mas isso valeria em todas as outras áreas das faculdades.
As razões para o desprestígio do empreendedorismo são claras. O país não cresce. Estagnado como está e como vem vindo há muitos anos, o consumo cai. Sem consumo, não há negócios. E quando o negócio é favorável, aí esbarra em coisas gravíssimas como a burocracia pública que começa na abertura da empresa, no seu registro na prefeitura, na fazenda, depois na burocracia da papelada, nos impostos que comem, no mínimo 15% se for na área de serviços. Mas será muito mais se for no comércio ou na indústria.
Depois, tem outro inimigo oculto que joga contra qualquer negócio: as leis trabalhistas com seus custos pesadíssimos.
Nesse ambiente, um advogado que pense em abrir um escritório, deve lembrar que a justiça é lenta e burocrática, não se ligando se ele precisa da decisão para receber seus honorários e pagar aluguel, secretária e seus custos. Logo, ser funcionário público é muito mais prático. Se tiver um bom preparo, faz um concurso passa, e amarra o burro na sombra. Não importam as crises e nem a lentidão da justiça ou, seja lá o que for. No fim do mês o salário está na conta e não precisa mais se preocupar com a competitividade do mercado e pode parar de estudar porque o concurso o torna vitalício. Além do mais, em qualquer eventualidade, as leis o protegem quase completamente dentro do espírito corporativo que domina o serviço público, um dos setores mais organizados da sociedade brasileira.
Na minha esfera de convivência, que não é pequena, escuto todo o tempo a orientação dos pais aos filhos: estudem para fazer concurso público.
Claro que esses pais e esses jovens não devem ser condenados por essa atitude. Afinal, tudo mundo quer o melhor para si e para os filhos. Mas essa paranóia pelo serviço público reflete uma sociedade espremida por circunstâncias contrárias.
Só para registrar: há uns dez anos, aqui em Mato Grosso todos sonhavam em abrir um negócio. Mas agora sonho na juventude está cada dia mais focado no serviço público. Isso é péssimo, como sinal de pouca vitalidade da sociedade e da economia.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br
Oi gente.
Há dez dias não atualizo o meu blog. Pensei que nimguem lia, mas tive reclamações. Tenho muita coisa para dividir com vocês, mas começo pela cópia do artigo do Jornalista Onofre Ribeiro sobre Empreendedorismo que tem a minha contribuição.
Abraços
A todos.
Elifas
Gesto:
Sobre empreendedorismo

Onofre Ribeiro

Sobre o artigo “Empreendorismo em queda”, publicado neste jornal no último dia 18, recebi contribuições muito interessantes, algumas das quais gostaria parcialmente.
Do presidente do Fórum Empresarial de Mato Grosso – Foremat – Célio Fernandes: “vejo que o problema não é só de Mato Grosso, é nacional e tem preocupado muito o setor empresarial. As informações de que o brasileiro é muito empreendedor, devem ser analisadas muito mais sobre o prisma da reatividade e adaptação às condições adversas (citadas no artigo), do que sobre a capacidade de planejar e realizar novos negócios. Mas quero ater-me inicialmente a questão deste crescimento na busca por empregos públicos.Façamos um raciocínio simples; se para passar em um concurso público a concorrência é imensa, devemos concluir que apenas os melhores farão parte do quadro de servidores públicos. Isso seria ótimo se a visão, a cultura e principalmente a prática do serviço público fosse realmente a de servir o cidadão, a sociedade, gerando melhor qualidade de vida. Melhor ainda se estes profissionais representassem de fato uma nova esperança de transformações nos modelos burocráticos e intervencionistas do Estado sobre a sociedade. Mas de uma maneira geral, o que temos visto é que esta busca desvairada por emprego público é fruto da busca por maior segurança financeira, e da maldita estabilidade (que mata aos poucos a criatividade dos melhores talentos, assim como os sonhos de uma sociedade melhor para todos), ou como disse o Onofre " de amarrar o burro na sombra".
Do professor Elifas Gonçalves Júnior, da área de gestão na Universidade Federal de Mato Grosso recebi estas considerações: “Na UFMT não é diferente e, imagine: no curso de Administração, que a princípio seria uma fonte de empreendedores, nas turmas finais do curso 3 ou 4 querem empreender, os demais...concurso público. Fico triste pois o serviço público não irá aguentar empregar tanta gente e gera renda insuficiente para manter o país (com a palavra meus amigos economistas). No último semestre estudantil, tenho que falar assim pois estamos compensando as greves e ainda não conseguimos nos adequar ao calendário tradicional, pedi que os discentes procurassem alguns empresários e os trouxessem à universidade a fim de podermos compartilhar as experiências. Qual foi o resultado: total desânimo dos alunos e pouquíssimo interesse pelo tema. Eles estão errados? Talvez não! O risco é altíssimo. Juros entre os mais altos do mundo, quando não o somos, como você bem disse uma burocracia infernal e infeliz, empregados despreparados e pouco alinhados a empresa, carga tributária maluca, aí incluindo a trabalhista. E mais, se tudo der certo: Parabéns! se der errado, sabe o que dizem...ele quebrou. Os bancos, empregados, colegas, amigos (os não verdadeiros), fornecedores não querem nem saber, querem o deles e acabou. Caro Onofre, os meninos estão certos não vale a pena eles passarem o que passei e estou passando. Mas até quando o Brasil vai aguentar”.
De Célio Fernandes, o arremate: “Agora, diante destas constatações eu fico me perguntando como serão os empregos, as relações trabalhistas e os salários no futuro?Quem irá se dispor a fazer coisas como trabalhos braçais, coleta de lixo e limpeza pública, motoristas, empregados domésticos, serviços de construção civil, manutenção, etc.? Estas são algumas das dúvidas dos atuais e futuros empreendedores”

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br