Apr 9, 2007

Dá um jeitinho professor.

A Universidade está perdendo a disputa do tempo de alunos de graduação.
Nos catorze anos de minha vida dedicada ao ensino universitário tenho observado o lento mais constante firmeza de muitos alunos de graduação e pós-graduação em relegarem a universidade ao segundo ou terceiro plano. Confesso que setores desta mesma organização superior os incitem diante de ações burocráticas e voltadas para si mesmas a procurar este caminho.
Quando conseguem adentrar a organizações de porte e que vislumbram o progresso na carreira deixam a universidade, ou melhor, diminuem o ritmo de estudos e a freqüência nas aulas. Quando consegue estar em sala de aula está cansado.
É visível o esforço de muitos para se manterem atentos às explanações. Em termos práticos a universidade tem feito muito pouco para este público. Ainda encaram os discentes com todo o tempo para o estudo, sem outras necessidades a serem supridas.
As empresas em algumas situações detêm mais informações e as repassam aos seus colaboradores do que as instituições de ensino superior periféricas, talvez por terem mais verbas destinadas a formação de seus quadros, pela maior facilidade de contratação de consultores e pesquisadores. Vejam um exemplo: No próximo mês de novembro haverá um encontro internacional com algumas autoridades internacionais em gestão: custo do evento incluindo passagem aérea e hospedagem, aproximadamente seis mil reais. Há poucos recursos públicos para eventos desta natureza, poucos professores têm a oportunidade de estarem presentes.
O calor da juventude de muitos alunos talvez turve a visão para poderem enxergar o quanto a universidade ainda pode os ajudar, principalmente incitando-os a pensar, este recurso próprio do ser humano que muitos teimam em esquecer.
No encerramento das aulas deste ano, recebi a visita de um dos estudantes do curso de Administração, pedindo para dar um jeitinho para ser aprovado, pois esteve impedido de participar das aulas, nem realizar os trabalhos em sala, muito menos o trabalho de encerramento de disciplina por um motivo profissional inadiável. Tentei remediar a situação explicando que tinha algumas regras a seguir e precisava respeitá-las. Isso não o convenceu.
Diante da insistência expliquei que colegas de sala tinham feito grandes esforços para concluir a disciplina, e que um deles viajou de Brasília a Cuiabá para não ultrapassar os limites de faltas e que ainda outra colega, apesar de assistir o pai com câncer se esforçou para terminar as atividades.
Ainda não convencido disse-me: "Professor dá um trabalho e seja compreensivo. Sei toda a matéria."
Não segui a sugestão do discente. Perguntei: - A Universidade que você deseja será a do trabalhinho? Senti que pela primeira vez o toquei. Mas ele queria era ser aprovado e ponto final.
Como aprovar desrespeitando normas (isso não quer dizer inflexibilidade), não respeitando aqueles que assistiram às aulas, que contribuíram com o conhecimento dos colegas, deixaram filhos, esposas, horas de lazer para estarem discutindo o conhecimento? Não acho isso correto, mas sofro os desgastes desta situação.
Tenho fé na educação e que, mais cedo ou mais tarde, a vida nos mostra caminhos que devemos percorrer. Este é apenas um deles.

Prof. Adm. MSc. Elifas Gonçalves Junior

Março de 2007
A escola, o avião e a palestra: um trio clamando por educação.

Situação 1: Sesi Escola – unidade Morada do Ouro.

Diante do portão de entrada da escola recentemente foi incluída uma faixa de segurança para pedestres. A mais ou menos cinco metros atrás, uma placa de proibido parar e estacionar foi colocada, além de sinalização de solo indicando o sentido para vans escolares e carros particulares. O que acontece? Pais ignoram a placa indicativa de direção e a de proibição e pasmem, estacionam sobre a faixa de segurança, quando não ficam buzinando para apressar os filhos a entrarem logo nos carros.
Para quê?

Situação 2: Aeroporto Marechal Rondon – Várzea Grande – MT.

Cabine de passageiros de uma aeronave da empresa aérea TAM que acabava de pousar na pista mato-grossense proveniente do Aeroporto Juscelino Kubistchek de Oliveira - Brasília. O avião taxiava na pista e apesar dos avisos luminosos de não desatar cintos, grande parte dos passageiros já se levantava e abria o compartimento de bagagens de mão, apesar de saberem quando da parada total da aeronave, como já provou Newton, há um movimento de ação e reação e todos num ritmo de axé, num vai e vem, movimentam a cintura da esquerda para a direita, ou de frente para trás, ou vice-versa conforme a posição do corpo.
Para quê?

Situação 3: IX Fórum internacional de criatividade e inovação – Aracajú-SE.

Apesar dos avisos dos organizadores e dos palestrantes para que os participantes desligassem o telefone celular, alguns simplesmente o ignoravam. Como dizem os gaúchos: Báh! Era: Tim, Claro, Vivo e Oi a todo instante. Mas havia uma solução: As pessoas se curvavam e tentavam falar baixinho. As mulheres de cabelos compridos tinham um artifício: o colocavam para frente, acredito, para minimizar o incomodo ou para disfarçar o diálogo.
Para quê?

Alexandre Garcia já se pronunciou sobre o assunto, mas não me contenho em comentá-lo. Será que a lei de Gerson é a cara do povo brasileiro? Insisto em pensar que não, pelo menos para uma parcela da população brasileira, isso não pode ser verdade.
Os pais transgridem as regras em um ambiente educacional diante de seus filhos menores para não andarem cinco ou seis metros? Para economizarem tempo? Um ou dois minutos. Para quê?

Os passageiros assentados em poltronas instaladas mais atrás da porta dianteira da aeronave economizariam algum tempo se adiantando? Talvez alguns minutos caso não tenham que retirar a bagagem, e se tiverem, não vai adiantar absolutamente nada, pois a maioria as possui. Para quê?

Hoje provavelmente é chique, quando encontramos uma pessoa que não usa o celular por opção, que consegue administrar o seu tempo e, talvez, possa parecer um contraste, um paradoxo, diante de tanta tecnologia.

O que está acontecendo? Parece que os valores individuais suplantam os valores coletivos. Tenho estudado sobre o cérebro e o comportamento humano e para minha surpresa as literaturas científicas acusam que esse comportamento pode ser considerado normal.

O cérebro reptiliano, o primitivo, talvez atue nestes momentos. A necessidade instintiva, básica de sobreviver, de ser o mais rápido, de levar vantagem vem à tona. O coletivo, a vida em clãs até o advento das megalópoles, da pré-história a sociedade pós-moderna e o ambiente cooperativo foi uma invenção humana para continuar a sobreviver diante das dificuldades ambientais. O homem vivendo em comunidade é menos vulnerável do que o solitário. A necessidade de sobreviver é o instinto mais forte da raça humana, inclusive superando o desejo de perpetuação da espécie.

Diante das dificuldades o ser humano se uniu. A necessidade de conviver com outros seres obrigou a criação de regras para o convívio harmônico. O respeito a elas é sinônimo de grupamentos sociais mais evoluídos e a educação é a ponte, o portal para este salto qualitativo, mesmo que dentro deste ambiente, pais, passageiros e estudantes teimem em não acessar o córtex cerebral.

Elifas Gonçalves Junior
Abril/2007