Apr 9, 2007

A escola, o avião e a palestra: um trio clamando por educação.

Situação 1: Sesi Escola – unidade Morada do Ouro.

Diante do portão de entrada da escola recentemente foi incluída uma faixa de segurança para pedestres. A mais ou menos cinco metros atrás, uma placa de proibido parar e estacionar foi colocada, além de sinalização de solo indicando o sentido para vans escolares e carros particulares. O que acontece? Pais ignoram a placa indicativa de direção e a de proibição e pasmem, estacionam sobre a faixa de segurança, quando não ficam buzinando para apressar os filhos a entrarem logo nos carros.
Para quê?

Situação 2: Aeroporto Marechal Rondon – Várzea Grande – MT.

Cabine de passageiros de uma aeronave da empresa aérea TAM que acabava de pousar na pista mato-grossense proveniente do Aeroporto Juscelino Kubistchek de Oliveira - Brasília. O avião taxiava na pista e apesar dos avisos luminosos de não desatar cintos, grande parte dos passageiros já se levantava e abria o compartimento de bagagens de mão, apesar de saberem quando da parada total da aeronave, como já provou Newton, há um movimento de ação e reação e todos num ritmo de axé, num vai e vem, movimentam a cintura da esquerda para a direita, ou de frente para trás, ou vice-versa conforme a posição do corpo.
Para quê?

Situação 3: IX Fórum internacional de criatividade e inovação – Aracajú-SE.

Apesar dos avisos dos organizadores e dos palestrantes para que os participantes desligassem o telefone celular, alguns simplesmente o ignoravam. Como dizem os gaúchos: Báh! Era: Tim, Claro, Vivo e Oi a todo instante. Mas havia uma solução: As pessoas se curvavam e tentavam falar baixinho. As mulheres de cabelos compridos tinham um artifício: o colocavam para frente, acredito, para minimizar o incomodo ou para disfarçar o diálogo.
Para quê?

Alexandre Garcia já se pronunciou sobre o assunto, mas não me contenho em comentá-lo. Será que a lei de Gerson é a cara do povo brasileiro? Insisto em pensar que não, pelo menos para uma parcela da população brasileira, isso não pode ser verdade.
Os pais transgridem as regras em um ambiente educacional diante de seus filhos menores para não andarem cinco ou seis metros? Para economizarem tempo? Um ou dois minutos. Para quê?

Os passageiros assentados em poltronas instaladas mais atrás da porta dianteira da aeronave economizariam algum tempo se adiantando? Talvez alguns minutos caso não tenham que retirar a bagagem, e se tiverem, não vai adiantar absolutamente nada, pois a maioria as possui. Para quê?

Hoje provavelmente é chique, quando encontramos uma pessoa que não usa o celular por opção, que consegue administrar o seu tempo e, talvez, possa parecer um contraste, um paradoxo, diante de tanta tecnologia.

O que está acontecendo? Parece que os valores individuais suplantam os valores coletivos. Tenho estudado sobre o cérebro e o comportamento humano e para minha surpresa as literaturas científicas acusam que esse comportamento pode ser considerado normal.

O cérebro reptiliano, o primitivo, talvez atue nestes momentos. A necessidade instintiva, básica de sobreviver, de ser o mais rápido, de levar vantagem vem à tona. O coletivo, a vida em clãs até o advento das megalópoles, da pré-história a sociedade pós-moderna e o ambiente cooperativo foi uma invenção humana para continuar a sobreviver diante das dificuldades ambientais. O homem vivendo em comunidade é menos vulnerável do que o solitário. A necessidade de sobreviver é o instinto mais forte da raça humana, inclusive superando o desejo de perpetuação da espécie.

Diante das dificuldades o ser humano se uniu. A necessidade de conviver com outros seres obrigou a criação de regras para o convívio harmônico. O respeito a elas é sinônimo de grupamentos sociais mais evoluídos e a educação é a ponte, o portal para este salto qualitativo, mesmo que dentro deste ambiente, pais, passageiros e estudantes teimem em não acessar o córtex cerebral.

Elifas Gonçalves Junior
Abril/2007

1 comment:

Anonymous said...

Poderia haver aí uma "situação 4", que presenciei na semana passada: apresentação da Orquestra de Câmara do Estado no espaço cultural Sesc Arsenal. Lugares reservados aos patrocinadores por ser a noite de estréia do mês. Uma senhora e sua acompanhante ocupam dois lugares destes, apesar das etiquetas que os marcavam. Uma representante da empresa quando chega e percebe a situação, solicita gentilmente que a senhora e sua acompanhante procurem outro lugar para se acomodar, já que havia mais pessoas da empresa patrocinante para chegar. A senhora, que disse ser membro do círculo cultural e artístico cuiabano (pasme!), se recusou a sair, com uma resposta bem mal-criada. Detalhes à parte, a história terminou assim. E ficou bem claro que educação e cultura não são necessariamente a mesma coisa. Gostei do seu artigo, Prof. Elifas! O fato de você ter se manifestado sobre estes casos de extremo desrespeito e falta de senso comunitário confortou-me o coração. Estava indignada...