Oct 7, 2008

Marqueteiros ou conselheiros na política? Onofre Ribeiro O bom da democracia é que existem eleições e que elas são sempre muito didáticas. Aferem os eleitores e eles aferem os candidatos a governantes e a legisladores. Uma eleição nunca repete a anterior. E o conjunto delas vai construindo o perfil político da sociedade. A eleição municipal de 2008 deixou muitas lições. Uma delas é a comunicação dos candidatos a prefeito e a vereadores com a sociedade e com os eleitores. Bom lembrar que são dois públicos diferentes. Quem não vota também opina. É como filhos na compra do carro da família. Não são eles quem pagam, mas opinam e ajudar a definir cor, marca, etc. O principal elemento que se lê dessa eleição, foi a péssima comunicação dos candidatos com a sociedade. Repetiram-se velhas fórmulas e velhas regras de eleições anteriores, como se a sociedade não tivesse evoluído muito mais do que os candidatos. Aqui coloco a minha tese. Está na hora do chamado marketing político ser conduzido ao seu verdadeiro papel, que é o de dar linguagem ao discurso político. O que é a linguagem? perguntaria o leitor. Linguagem é a tradução das idéias e dos propósitos na forma que a sociedade seja capaz de compreender. O marketing não tem a função de produzir idéias e nem de pensar pelos candidatos. Seu papel é exclusivamente o de lidar trabalhar a linguagem. Mas há muito isso não acontece. Virou um feudo fechado nas campanhas de onde ninguém se aproxima porque ali está a suposta caixa da sabedoria política. Isso não cabe mais na sociedade dinâmica e altamente mutante da atualidade. Os candidatos devem pensar, checar as suas idéias através do filtro de pessoas da ciência, com conhecimento de sociologia, de psicologia social, da ciência política, de pesquisas, de história, etc. Podem estar juntas num conselho de estratégia, ou atuar como profissionais de assessoramento. As idéias formuladas precisam necessariamente passar pelo filtro político e depois caírem no marketing político para dar-lhes a cor e a linguagem. É de se imaginar que nesse estágio, a comunicação com a sociedade esteja aplainada pela auditoria da ciência e da lógica, longe dos emocionalismos e das pressões sobre o marketing político. Na eleição às prefeituras em 2008 no estado de Mato Grosso, o marketing político foi o maior perdedor. Comitês da maldade, idéias criadas sob pressão, linguagem errada ou controversa, linguagem incompreendida pela sociedade. Mas o pior mesmo foi o exemplo de candidatos engessados pelos marqueteiros e se tornaram bonecos diante do eleitorado. Ou o estímulo a agressões e a denúncias que os eleitores e a sociedade entenderam como oportunismos eleitorais. Por fim, a ausência de ciências sociais nas eleições, sufoca os candidatos com a pressão de milhares de palpites que acabam passando pelo marketing e, às vezes, viram monstros causadores de derrotas de candidatos vitoriosos. Espera-se que no segundo turno em Cuiabá, se filtre a campanha pela lógica das ciências sociais e se dê ao marketing político o seu papel de traduzir as idéias em linguagem compreensível, clara, transparente, fiel e construtiva, sem as tensões deformadoras próprias da dinâmica eleitoral. É hora dos pensadores entrarem em campo e dos marqueteiros cuidarem só da linguagem. Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e das revistas RDM e Centro-Oesteonofreribeiro@terra.com.br

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