Jun 6, 2008

Olá!
Veja a que ponto estamos chegando na educação. Com autorização do Professor Roberto Boaventura retrasmito o seu artigo.

Abraços.

Elifas

ESPAÇO ABERTO
Debate de idéias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT – Adufmat - nº 84/2008.
EDUCAÇÃO E GERAÇÕES COMPUTADORIZADAS
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo/USP - Prof. de Literatura/UFMT
rbventur26@yahoo.com.br

Recentemente, duas importantes matérias foram publicadas pela mídia nacional. Em uma (FSP: 28/05), tratou-se do lançamento do livro "Geração mais idiota" de Mark Bauerlein. Na outra (Idem: 29/05), apresentou-se o resultado de pesquisa sobre o grau de insatisfação do professor com sua profissão, bem como o desgosto de alunos pela leitura. Por força do ofício, ambas as matérias - interligadas - me convidam para reflexões.
Sobre o livro, muitas das considerações já foram antecipadas por mim em várias aulas. Há algum tempo, tenho exposto aos acadêmicos minhas preocupações com as três últimas gerações, bem como com as gerações vindouras. O motivo é o mesmo apontado por Bauerlein: o excesso tecnológico (tv, celular, games), com destaque à internet. Conforme aquele escritor, a web tem contribuído no "emburrecimento" dos jovens de seu país (EUA).
Para sustentar a tese, o autor diz que "os jovens não lêem. Preferem dedicar tempo a vasculhar vidas alheias e a expor as suas próprias vidas em redes de relacionamento". Afirma que "o que os jovens lêem na rede não lhes acrescenta nada em termos de gramática nem capacidade de elaborar textos". Sintetiza suas considerações, dizendo que "a realidade das práticas na web é só o que poderíamos esperar: expressões e recreações adolescentes".
Infelizmente, isso é verdadeiro e não ocorre apenas na terra do Tio Sam. Por cá também; talvez, ainda mais do que por lá. Exibir-se em orkuts - locus de comunicação narcisista - parece ser a forma como cada um tem buscado para se sentir o mais importante dos seres. E aí, a adolescência extrapola os limites dos anos "teens". Há muita gente "madura" brincando de ser adolescente; tudo para se sentir incluído no "virtual society".
Nos últimos anos, tenho trabalhado com turmas das áreas das ciências humanas e sociais. Com exceções, a leitura dos acadêmicos beira o nada. O repertório cultural da maioria é raso; por isso, é incompatível com o espaço acadêmico que ocupa. Muitos não têm informações sequer de telejornais. Quando as têm, a leitura de profundidade aproxima-se do nível zero. Logo, a escrita é mais do que elementar; é rudimentar.
Dessa forma, o governo, investindo tanto recurso em computadores, está contribuindo mais do que o necessário com uma fatia da indústria afim. Sob fachada discursiva de inclusão, pode estar apostando na deformação escolar. Para a maioria da criançada e da juventude - mesmo que inteligente e criativa - a internet não tem sido o caminho adequado a nenhum tipo de estudo. Afinal, apenas 6% aproveitam bem a tecnologia. Por isso, muito dos investimentos deveria ser aplicado na valorização do professor e na formação e atualização de bibliotecas reais; até porque, o grau de insatisfação do profissional passa tanto pelo aspecto financeiro quanto pelo baixo desempenho dos alunos.
Hoje, ser professor já é sinônimo de degradação social. Até programas de humor ridicularizam a profissão em relação a outras. Há algum tempo, um personagem professor - interpretado por Chico Anísio -, tendo de lidar com "dificuldades" de seus estudantes, brincava com o baixo valor de seu salário. Tirando o caricato do riso, as tais "dificuldades", na salas de aula reais, advém da pouca leitura realizada pela maioria.
Isso se comprova com pesquisa recente: 45% dos estudantes brasileiros não gostam de ler. Quando lêem, os preferidos são a bíblia e livros didáticos. Resguardando a importância desses gêneros, assim fica difícil o trabalho crítico; qualquer formação escolar infantil e/ou juvenil está previamente condenada. Para agravar esse desgosto pela leitura, literalmente, a maioria está presa na rede, mas se pensa livre e globalizada. Ilusão de época!

2 comments:

Anonymous said...

esqueciasenha:

Tive aula com ele na Publicidade.

Realmente, uma pessoa fundamental para esta universidade. Desperta muitas questões em nós.

Abras,
Rafael

Marita said...

Elifas
concordo com suas colocações em gênero, número e grau.
Eu que fui uma adolescente em uma década em que a internet ainda não havia chegado ao ambiente doméstico, curti muita música, filmes e livros. Lia um atrás do outro, por puro prazer. E cultivo este hábito até hoje. Preocupo-me com a geração vindoura, da qual minha filha de 8 anos faz parte, e por isso estou, desde já, fazendo de tudo ao meu alcance para evitar que ela seja um desses jovens alienados...

Grande abraço da sua eterna aluna!