Jan 13, 2007

BILL O BRASILEIRO

DIGESTO

O fato aconteceu um dia após o natal. Demos de presente ao Álvaro, nosso segundo filho, uma, bicicleta que havia prometido há um ano e só pude cumpri-lo neste natal. Obviamente tive que negociar com os outros filhos. Isso vai me custar uma bicicleta pó mês até Abril, já que em janeiro pedi uma folga aos requerentes. Como bom brasileiro, acredito que faço parte dos 85% dos filhos de Cabral que deixam as compras e o imposto de renda para a última hora. Descobrimos a bicicleta, aro 26, com bom preço no Makro Atacadista. Não havia mais nenhuma. Onde comprar, dia 23, 16h00, com poucos recursos, já que tínhamos feito uma pesquisa no centro e no Shopping e os preços muito que excediam os do atacadista. Lembramo-nos do Ciclo Center Ribeiro. Lá poderia ser a nossa salvação, já que prometi para mim mesmo que não deixaria de cumprir este compromisso novamente.
Já sabíamos que íamos esperar: bicicletas mais caras, atendimento precário, fila para comprar, fila para pagar e tudo aquilo que não gostamos, mas corremos atrás de forma inconsciente deixando para a última hora. Infelizmente o fato se confirmou. Chegamos próximos às 17h00 e o vendedor que nos atendeu estava estampado em seu semblante o horário de saída que já se aproximava. Era um relógio Cuco, daqueles bem antigos, sob um corpo de um moço que não deveria ter mais do que vinte e três anos, pronto a abrir as portas e destilar o som o qual ficou famoso no mundo inteiro.
Quando dissemos que queríamos uma bicicleta simples, aro 26 a resposta foi a esperada: Foram todas vendidas, temos esta aqui... Bom! A bicicleta apresentada custava 40% a mais. Insistimos e com alguma relutância foi verificar se tinha sobrado alguma no estoque. Não é que ele encontrou! “Mas tem um probleminha”, disse... Senti esfriar a espinha novamente: Ela está desmontada e o pessoal da oficina está com muito trabalho, assim não é possível montá-la naquele dia. Insisti novamente e nova ida a oficina. Realmente não era possível, mas ele me deu o cartão e indicou a bicicletaria que poderia fazer a montagem. Era menos de uma quadra e lá vamos nós. Isto nos custou mais trinta minutos (ele disse que não levaria mais de dez) e R$ 15,00 para a oficina e mais R$ 5,00 de caixinha (o natal me deixa com a mão mais aberta ainda). Há! Esqueci de dizer os trinta minutos ficamos em pé, pois o banco que se apresentava não era digno de nossos traseiros.
A bicicleta, eis que a vejo montada, de duas cores, azul e branco, bonitas, mas o pneu traseiro meio murcha. Como bom chato pedi que enchessem mais um pouco essa figura circular que não reclame de sempre subir e descer na mesma proporção e teria a doce tarefa de carregar a maior parte de um menino um pouco acima do seu peso Assim foi feito. Um pouquinho mais de libras de ar e fomos embora felizes com missão cumprida de bons pais.
Entrega dos presentes, felicidades, sorrisos, 24 horas sem problemas.
No dia seguinte, natal, depois do almoço, pneu furado. O rosto deste menino de onze anos e os olhos azuis de doer estavam molhados com água salgada que irradia do canto de nossos olhos. Lá fui eu atrás de uma borracharia ou bicicletaria aberta na tarde de natal. Fomos para a antiga Estrada do Moinho, hoje Avenida Dr. Archimedes Pereira Lima. Primeiro ponto fechado, segundo ponto fechado, terceiro ponto aberto. Ficamos felizes, um borracheiro de boa vontade poderia nos ajudar. Desconfiava que fosse o bico, ou alguma coisa na válvula. O meu destino continuava o mesmo. Não era nenhuma das duas coisas. O borracheiro desconfiou que o problema estivesse na câmera e deveria procurar uma bicicletaria. Onde encontrar, perguntei já sem paciência ao borracheiro que já me virava as costas. Vá ao Bil, ele resolve. Perguntei educadamente: Onde fica o Bil? Terceira rua a direita, na Marmoraria você vira e vai mais uns metros. Lá vamos ao Bil.
Encontramos a bicicletaria. Aliás, encontrei uma loja de roupas e ao lado a bicicletaria. Fui atendido por uma senhora, acredito que fosse a esposa do Bil, sonolenta, assistindo acredito eu o Domingão do Faustão. Estávamos no Bairro Renascer. Esgoto ao léu, crianças jogando bola, desocupados esperando a tarde passar, cachorros, muitos cachorros e onde e estava o Bil? Disse a Senhora arrumando os despenteados cabelos, Menino vá chamar o seu pai. Zezinho vem tirar essa bicicleta do carro do moço. Descobri que o Bil tinha ido ao orelhão a mais ou menos cem metros de sua casa/oficina/loja. O filho menor pegou a bike, quase que pedindo para fazer sozinho, sabe que até gostei da boa vontade de um guri que tinha metade do tamanho do veículo que ele segura com firmeza e muito esforço.
_ O Senhor Aguarde: meu pai, ele já vem, meu irmão foi chamá-lo. Vou levar a bicicleta. Acompanhei meio desconfiado o percurso de 10 metros e lá vinha o outro irmão sôfrego envolto em outro bike, dizendo: Meu pai já está vindo.
Assim em instantes surgiu Bil. Um homem baixo, falante, vendedor nato (se pudesse sairia com outra bicicleta). Boa Tarde! Boa Tarde! Foi um diálogo curto mais daqueles que se mostravam amistosos. Acreditava que era bem vindo naquele instante. Ele olhou o pneu e disse, vai ser a câmera. Olhei desconfiado e continuei com a minha hipótese:
- Pode ser o bico ou a válvula.
- Vamos ver.
A resposta foi rápida tão quanto a virada da bicicleta de pernas para o ar. Arrumou dois pedaços de pano, na realidade dois trapos, e protegeu o atrito do banco e do guidão junto ao cimento áspero. Encheu o pneu traseiro e disse:
- É a câmera. Eles vendem essas "bicicretas" baratas e as câmeras não prestam. Veja só!
Bil mostrou a porcaria que corou o vendedor que me atendeu dois dias depois no local de compra, é verdade que pedi outra câmera. O rapaz que me atendeu fisgou os nossos movimentos e continuou de cabeça abaixada e continuaria nesta posição, acredito que, por mais uma hora, até irmos embora. Ele sabia da qualidade do produto que tinha vendido.
Voltemos ao Bil.
- Esta “Dr. é boa. É B R A S I L E I R A. Veja a qualidade. Não tem emendas. Olhe a qualidade da borracha. Coloque ela e não vai ter problema. Eu garanto.
Bil havia despertado a qualidade de nossos produtos diante de tanta porcaria chinesa, coreana e malasiana (será que é isso mesmo?).
Voltamos para cãs felizes. O Alvinho subindo e descendo as ladeiras do condomínio. Eu tranqüilo de poder terminar este artigo e Bil, este brasileiro do Bairro Renascer, dando uma aula de qualidade no atendimento e de valorização de um produto Brasileiro.
Até hoje não tive problemas com a nova câmera.
Bil o bom brasileiro.
Elifas

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